1. |
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Tudo tédio
Tudo torpe
Tanto trago no vazio
Tanta sede
Nada cura
Fome de fio a pavio
Vê-se algo e se cheira
Mas o olho não sacia
Não se deixa da seteira
Não se morde do que via
Fome que és sede
Fundo feito farto a valar
Nada enche que preencha
Esta ânsia de tomar
Dá-me sede
Tudo tédio
tudo torpe
Tanta teima sem asserto
Tanta sede
Sem rotura
Vai-se gota, atrofio
O que fica não nos chega
Sede que nos mate rio
Não nos gastam a palavra
Mas coíbem-nos o pio
Fome que és sede
Fundo feito farto a valar
Nada toma essa pressa
Toda feita de sonhar
Dá-me sede
Tudo tédio
tudo torpe
Tanta paz num arrepio
Tanta calma
Nada vira
Nada feito rodopio
Que se ouve no silêncio
Nada tine nem repica
Não barulha uma soada
Cantilena melopeia
Fome, que és sede
Fundo feito farto a valar
Nada apaga este risco
Esboço feito de somar
Dá-me sede
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2. |
Safra de Gente
03:23
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3. |
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Disse O-que-sabe
Que nada sabia
Mentindo a verdade
Que ninguém ouvia
Que o coração enchido
É o mesmo que o vertido
Torpe tarefa de todo o sentido
Disse O-que-sabe
Que nada sabia
Mentindo a verdade
Que ninguém ouvia
Que não há sombra sem um sol
Nenhum dia sem noite posta
Uma pergunta a cada resposta
Vento vai e vento fica
Tudo é ida, tudo é volta
Nada fica que não se veja
Que não se veja de partida
Disse O-que-sabe
Que nada podia
Escondendo a verdade
Que ninguém queria
Que todo o vão sentido
Tem a forma do perdido
Pronto o todo o trazido
Disse O-que-sabe
Que nada podia
Escondendo a verdade
Que ninguém queria
E não há corda sem um nó
Gente que fique por só
Fazer o que lhe é pedido
Vento vai e vento fica
Tudo é ida, tudo é volta
Nada fica que não se veja
Não se veja de partida
Gente-vai e gente-vem
E tudo no mesmo ponto sem
Que se veja ou vá além
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4. |
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De que te vale a transparência
Se primeiro cegas, se primeiro cegas
Se ao menos o transparente
Pudesse ser olhado
Do aqui ao seu passado
Do aqui ao seu passado
De que te vale ser de vidro
Se primeiro quebras, se primeiro quebras
De que te vale toda a seda
Pano ou estofo corrediço
Se te vês sempre em enriço
Se te vês sempre em enriço
De que te vale a humildade
Se primeiro perdes, se primeiro perdes
De que te vale a deferência
Feito dócil demais disso
Se és rasteiro submisso
Se és rasteiro submisso
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5. |
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Num corpo sem janela há um quarto vazio
E nele o ar circula de fio a pavio
Num corpo há um quarto vazio
Num quarto sem janela há um corpo vazio
e esse está à espera que lhe puxem o fio
Num quarto há um corpo vazio
Cuidado com o Corpo vazio
Cuidado com o Corpo vazio
No corpo sentinela há um fado sombrio
E nele o feito faz-se de força ou brio
No corpo há um lado sombrio
No fado sentinela há um corpo sombrio
E esse está à espera de sentir desvario
No fado há um corpo sombrio
Cuidado com o Corpo vazio
Cuidado com o Corpo vazio
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6. |
Asas
03:58
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Se não tinhas qu ́entrar
Porque te fizeste de pressas
Pensavas ser
Da qualidade dos génios
Não estou a dizer nada
Espera!, não te vás
Se não te digo o que quero
É por saber o qu´isso traz
Ao venal são sempre dadas,
Mordomias e as asas
Se não tinhas que dizer
Porque te fizeste de pranto
Pensavas ter
A forma dos prodígios
Não quero de ti nada
Espera!, não te vás
Se não te digo o que penso
É por saber o qu´isso faz
Ao venal são sempre dadas,
Mordomias e as asas
Se não tinhas que mostrar
porque te fizeste de faces
Pensavas ter
O encanto das sirenas
Não espero de ti nada
Espera!, não te vás
Se não te digo o que sinto
É por saber o qu´isso traz
Ao venal são sempre dadas,
Mordomias e as asas
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7. |
Azougo
03:50
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Eu fui um dia braço
E mão e força de tomar
Hoje sou ruído de rua
Coisa certa a ignorar
Nascem goivos da mudez
Quietude de pouca dura
De ti me vejo em grande falta
Acorda!
Eu fui um dia maço
Arroubo e rasgo de furor
Hoje sou só som e fúria
Nada mais que só torpor
Nascem goivos da mudez
Quietude de pouca dura
De ti me vejo em grande falta
Acorda!
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8. |
Sina Saudade
04:15
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Oh, que me fosse dado
Ir lá ter contigo
A essa terra de cal e pena
Oh, que me fosse dado
Ir lá ter contigo
Também nunca me vi de espanto
Feito dessa loucura
Na terra de vil ternura
Que é Sina Saudade
Orça tal delírio
Pesa esse fulgor
Feito na cidade
De Sina Saudade
Ah! Que me fosse dada
Passagem sem tributo
A essa terra de vil Sirena
Ah! Que me fosse dada
Passagem sem tributo
Também nunca me vi lanhado
Carente de sutura
Na terra, curva planura
Que é Sina Saudade
Pousa esse lírio
Sente esse ardor
Feito na cidade
Que é Sina Saudade
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9. |
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Feito que se faz feito
Não é feito qu´acontece
É coisa da mão d´alguém
Não coisa em que se tropece
Se inspira que inspire
Se espanta ou se não
Coisa alguma é feita
Sem ares no pulmão
Vazio, vapor e sopro
Tudo névoa-nada
Fumo que se faz fogo
Não é coisa que fenece
É coisa da mão d´alguém
Não coisa que s´esmaece
Se expira que expire
Se finda ou se não
Coisa alguma é feita
Sem ares no pulmão
Vazio, vapor e sopro
Tudo névoa-nada
Sono que se faz sonho
Não é coisa que vanesce
É coisa da mão d´alguém
Não coisa que anoitece
Se inspira que inspire
Se marca ou se não
Coisa alguma é feita
Sem ares no pulmão
Vazio, vapor e sopro
Tudo névoa-nada
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10. |
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Primeiro tudo é boca
E dela o trago sorvido
Depois o mundo cresce
E nasce o sonho vivido
De pés e mãos andantes
O corpo quer ser vivido
Depois do ventre o norte
E vontade do sentido
Desde o fundo do Tempo
O Homem vê-se sofrido
Depois o peito embate
E tudo se faz cumprido
No fim silêncio ouvido
E nele o jogo vencido
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MEDEIROS/LUCAS Azores, Portugal
Carlos Medeiros e Pedro Lucas são dois açorianos separados por 30 anos. Ao longo de 3 discos juntaram uma família de músicos e artistas de outras penas para concretizar a sua forma particular de cantar a língua portuguesa.
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